Uma área alagada que oferece uma capacidade incrível de armazenar carbono. Essa poderia ser uma excelente síntese para descrever os peatlands (as turfeiras, em português). Esse ecossistema pode ser encontrado praticamente em todas as zonas climáticas do mundo e é muito mais do que essa breve descrição, desempenhando um papel importante na mitigação da crise climática. Mas o que é e como podemos usá-lo de forma responsável?
Em terrenos encharcados ou pantanosos, caracterizados por um conteúdo mínimo de oxigênio no solo, as circunstâncias tornam o processo de decomposição da matéria orgânica um grande desafio. A matéria orgânica parcialmente decomposta se acumula de maneira constante ao longo de milhares de anos, criando o cenário ideal para a formação das turfeiras. Elas podem atingir profundidades impressionantes de 30 metros, e esse aspecto notável decorre do fato de que os componentes orgânicos, devido à sua decomposição incompleta, não liberam carbono na atmosfera. Curiosamente, embora as turfeiras abranjam apenas 3% da área terrestre do planeta, elas atuam como um repositório surpreendente de 30% do carbono do mundo. Essa estatística impressionante destaca sua capacidade de acumular carbono a uma taxa 15 vezes maior do que as florestas por metro quadrado. [1]
Portanto, este ecossistema se torna significativo na luta contra a crise climática, pois o armazenamento de carbono ajuda a mitigar os crescentes níveis de dióxido de carbono na atmosfera, um dos principais impulsionadores do aquecimento global. Ao capturar e armazenar carbono em reservatórios naturais, como também fazem as florestas e oceanos, podemos reduzir as concentrações de gases de efeito estufa, retardar o aumento da temperatura e limitar os efeitos adversos das mudanças climáticas, incluindo eventos climáticos extremos, aumento do nível do mar e perturbações nos ecossistemas.
Mas como podemos descrever o que são as turfeiras? De acordo com a International Peatland Society, elas "são ecossistemas terrestres úmidos nos quais as condições encharcadas de água impedem que o material vegetal se decomponha completamente. Consequentemente, a produção de matéria orgânica excede sua decomposição, resultando em um acúmulo líquido de turfa. Em climas frios, a vegetação das turfeiras é composta principalmente por musgos de Sphagnum, ciperáceas e arbustos, enquanto em climas mais quentes, gramíneas e vegetação lenhosa fornecem a maior parte da matéria orgânica."
Portanto, as turfeiras promovem uma gama diversificada e distinta de ecossistemas e vida selvagem em escala global. A abundância e variedade de organismos podem ser excepcionais em cada turfeira. Por todas essas razões, é importante que possamos olhar para essas paisagens com olhos diferentes e apreciá-las. É essencial que as intervenções espaciais que ocorram nestes ambientes sejam cuidadosas com o solo e não interfiram em seus ciclos. Ao integrar a preservação das turfeiras em seus projetos, os arquitetos podem contribuir para o objetivo mais amplo de preservação do meio ambiente e combate às mudanças climáticas. Afinal, ao usar esse sistema natural de forma inteligente, é possível trazer diversos outros benefícios que podem até mesmo retornar à arquitetura, como fontes de energia e aquecimento.
[1] Fonte: "A community-led research initiative for a productive landscape abstract", por Stefan Lengen, Ali Shaw & Mert Özbolat da The Bartlett School of Architecture, UCL (UK), disponível em Emerging voices on new architectural ecologies.
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